quarta-feira, 9 de abril de 2014

Capoeira: ascendência africana, origem brasileira

Capoeira: resistência e saúde
Os números não são conclusivos nem existe um consenso. Mas, para Kátia M. de Queirós Mattoso, autora de Ser Escravo No Brasil, entre 1502 e 1860, mais de 9 milhões e meio de africanos foram transportados para a América, e o Brasil figura como o maior importador de homens escravizados, ficando em nosso território entre 3.500.000 e 3.600.000, durante este período.
Estes africanos de etnias e regiões distintas traziam consigo sua própria África e aqui, lidando com o desconhecido e o arbitrário, se reinventaram, produzindo diferentes formas de encarar a realidade em diversas formas de resistência, recriando sua cultura e visões do mundo.
Regiane Mattos, em seu livro História e Cultura Afro-Brasileira, explica que os africanos influenciaram profundamente a sociedade brasileira e deixaram contribuições importantes em diversas áreas,
para o que chamamos hoje de cultura afro-brasileira. Uma dessas contribuições se materializou em forma de dança ou brincadeira, feita por escravos e libertos nas horas vagas: a capoeira.
Para Regiane existem indícios de elementos específicos das tradições africanas centro-ocidentais na prática da capoeira. Entre os povos do antigo reino do Congo existia uma dança de guerra semelhante à capoeira, podendo ser um ponto de partida para a sua comprovação africana. No Caribe também existem danças marciais com origem em tradições do Congo. Ela também lembra que a capoeira foi o resultado de uma combinação das experiências dos africanos como escravos.
Mas para Zulu Araújo em seu artigo A Afirmação da Capoeira, apesar de sua origem controversa, não existem dúvidas: a capoeira é brasileira. Foi em nossa terra que ela fincou suas raízes, como forma de resistência contra a opressão da escravidão. Uma herança dos negros bantos que foram introduzidos nos Brasil como escravos, originários de Angola. Aqui, foi cultivada e praticada por escravos fugitivos que se defendiam usando a técnica, que para não despertar suspeitas, os movimentos de luta foram incorporados às cantorias africanas para que parecesse apenas uma dança.
A capoeira foi duramente perseguida por longo tempo, sendo finalmente descriminalizada durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, em 1937, quando adquiriu status de esporte.
Jogando, dançando e lutando: a capoeira, estética da resistência, faz parte da história e da identidade brasileira. Praticar capoeira enseja muita história, música, arte, educação, lazer, terapia, religiosidade e movimento corporal, que, além de enaltecer nossa ancestralidade africana e nossa cultura, proporciona saúde para o corpo e para a mente.
Ao analisar o trabalho de pós-graduação de Ricardo Martins Porto Lussac, se deduz, entre diversos autores que fizeram parte de sua pesquisa (Marco Aurélio de F. Acosta, Marco Antonio Bechara, Sérgio A. R. de Souza, Amauri A. B. de Oliveira, Reginal da Silveira Costa, Luiz Silva Santos, etc.), que a capoeira trabalha três domínios: o psicomotor, o cognitivo e o afetivo. Em sua pesquisa também sobressai que, além do aspecto lúdico que envolve a capoeira, seus movimentos trabalham as qualidades físicas, a criatividade e o seu lado socializante. Além disso, é realçado o equilíbrio físico e psico-afetivo, o domínio espacial e a coordenação motora para seus praticantes. Sem contar que sua prática também aumenta a resistência, a flexibilidade e a agilidade.

Fontes:

- Ser Escravo no Brasil - Para Kátia M. de Queirós Mattoso;
- História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Escola – Cléia Medeiros e Iradj Roberto Eghrari;
- História e Cultura Afro-Brasileira – Regiane augusto de Mattos;
- Projeto Araribá: Geografia (A Afirmação da Capoeira – Zulu Araújo) – Editora Moderna;
- Desenvolvimento Psicomotor Fundamentado na Prática da Capoeira e Baseado na Experiência e Vivência de um Mestre da Capoeiragem Graduado em educação Física – Ricardo Martins Porto Lussac.  

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