Os números não são conclusivos nem
existe um consenso. Mas, para Kátia M. de Queirós Mattoso, autora de Ser Escravo No Brasil, entre 1502 e
1860, mais de 9 milhões e meio de africanos foram transportados para a América,
e o Brasil figura como o maior importador de homens escravizados, ficando em
nosso território entre 3.500.000 e 3.600.000, durante este período.
Estes africanos de etnias e regiões
distintas traziam consigo sua própria África e aqui, lidando com o desconhecido
e o arbitrário, se reinventaram, produzindo diferentes formas de encarar a
realidade em diversas formas de resistência, recriando sua cultura e visões do
mundo.
Regiane Mattos, em seu livro História e Cultura Afro-Brasileira, explica
que os africanos influenciaram profundamente a sociedade brasileira e deixaram
contribuições importantes em diversas áreas,
para o que chamamos hoje de
cultura afro-brasileira. Uma dessas contribuições se materializou em forma de
dança ou brincadeira, feita por escravos e libertos nas horas vagas: a
capoeira.
Para Regiane existem indícios de
elementos específicos das tradições africanas centro-ocidentais na prática da
capoeira. Entre os povos do antigo reino do Congo existia uma dança de guerra
semelhante à capoeira, podendo ser um ponto de partida para a sua comprovação
africana. No Caribe também existem danças marciais com origem em tradições do
Congo. Ela também lembra que a capoeira foi o resultado de uma combinação das experiências
dos africanos como escravos.
Mas para Zulu Araújo em seu artigo A Afirmação da Capoeira, apesar de sua
origem controversa, não existem dúvidas: a capoeira é brasileira. Foi em nossa
terra que ela fincou suas raízes, como forma de resistência contra a opressão
da escravidão. Uma herança dos negros bantos que foram introduzidos nos Brasil
como escravos, originários de Angola. Aqui, foi cultivada e praticada por
escravos fugitivos que se defendiam usando a técnica, que para não despertar
suspeitas, os movimentos de luta foram incorporados às cantorias africanas para
que parecesse apenas uma dança.
A capoeira foi duramente perseguida por
longo tempo, sendo finalmente descriminalizada durante o Estado Novo de Getúlio
Vargas, em 1937, quando adquiriu status de esporte.
Jogando,
dançando e lutando: a capoeira, estética da resistência, faz parte da história
e da identidade brasileira. Praticar capoeira enseja muita história, música, arte,
educação, lazer, terapia, religiosidade e movimento corporal, que, além de
enaltecer nossa ancestralidade africana e nossa cultura, proporciona saúde para
o corpo e para a mente.
Ao analisar o trabalho de pós-graduação
de Ricardo Martins Porto Lussac, se deduz, entre diversos autores que fizeram
parte de sua pesquisa (Marco Aurélio de F. Acosta, Marco Antonio Bechara,
Sérgio A. R. de Souza, Amauri A. B. de Oliveira, Reginal da Silveira Costa,
Luiz Silva Santos, etc.), que a capoeira trabalha três domínios: o psicomotor,
o cognitivo e o afetivo. Em sua pesquisa também sobressai que, além do aspecto
lúdico que envolve a capoeira, seus movimentos trabalham as qualidades físicas,
a criatividade e o seu lado socializante. Além disso, é realçado o equilíbrio
físico e psico-afetivo, o domínio espacial e a coordenação motora para seus
praticantes. Sem contar que sua prática também aumenta a resistência, a
flexibilidade e a agilidade.
Fontes:
- Ser Escravo no Brasil - Para
Kátia M. de Queirós Mattoso;
- História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana na Escola – Cléia Medeiros e Iradj Roberto Eghrari;
- História e Cultura Afro-Brasileira –
Regiane augusto de Mattos;
- Projeto Araribá: Geografia (A
Afirmação da Capoeira – Zulu Araújo) – Editora Moderna;
- Desenvolvimento Psicomotor
Fundamentado na Prática da Capoeira e Baseado na Experiência e Vivência de um
Mestre da Capoeiragem Graduado em educação Física – Ricardo Martins Porto
Lussac.
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