terça-feira, 8 de abril de 2014

Cacau: uma saudável amargura

cacau
O cacaueiro é uma árvore nativa da América Central e do Sul
O cacaueiro é uma árvore nativa da América Central e do Sul e era consumida, em forma de bebida, por várias civilizações pré-colombianas. Segundo Joanna Farrow, em seu livro Chocolate: Receitas Doces e Salgadas foram os maias que estabeleceram as primeiras plantações de cacau na região do Yucatán e na Guatemala, aumentando consideravelmente suas riquezas com as colheitas do cacau, pois estes eram considerados importantes comerciantes da América Central. De acordo com o Popol Vuh, o livro sagrado dos maias, a primeira bebida à base de cacau teve origem divina, pois, foi elaborada por um casal de ancestrais míticos para o casamento sobrenatural do seu neto, o herói Hun Hunahpu.
Na região do atual México, um povo conhecido asteca, que, designavam a si mesmo como “mexica”, reverenciavam o deus Quetzalcoatl, a serpente com plumas, que também era venerado em todas as culturas mesoamericanas e era a personificação da sabedoria e do conhecimento.
Para os astecas, Quetzalcoatl trouxera as sementes do cacau do céu para o povo, que festejava as colheitas com sacrifícios humanos, oferecendo para suas vítimas taças com uma bebida chamada de “tchocolath”, que era amarga e apimentada. O imperador asteca, Montezuma II bebia uma mistura de cacau com vinho ou purê de milho fermentado, especiarias, pimentão e pimenta.
Em 13 de agosto de 1521, Cuhautemoc, sucessor do imperador Montezuma II (morto em 1520, não se sabe se pelas mãos dos espanhóis, ou abatido por uma pedra arremessada pela multidão asteca), se rendeu aos conquistadores espanhóis. Após a destruição do império asteca, o conquistador espanhol Hernán Cortéz, impressionado com a mística que envolvia o chocolate e com o intuito de gerar riquezas para a Espanha, estabeleceu uma plantação de cacau para o rei Carlos V e começou a trocar as sementes de cacau por ouro. Os espanhóis foram pouco a pouco se acostumando com o sabor do chocolate, atenuando seu sabor amargo com a adição de mel.
Rapidamente o chocolate conquistou a família real, o rei Carlos V tinha por hábito tomá-lo com açúcar, e os nobres da corte espanhola. Durante todo o século XVI, os espanhóis conservaram em segredo a descoberta do chocolate. No início do século XVII os cafés das cidades de Veneza e Florença descobriram os segredos do chocolate. A França sucumbiu ao chocolate a partir de 1615, quando do casamento da infanta Ana da Áustria, que adorada a bebida, com o rei Luís XIII.  
Em pouco tempo os espanhóis se deram conta que o cacau produzido no México e na Guatemala não seria suficiente para satisfazer o crescente consumo entre os nobres europeus, iniciando o plantio também na Venezuela, que logo se converteu no principal fornecedor para a Europa. Por volta de 1687, ingleses e franceses começaram a plantar o cacau em suas colônias das Antilhas.
Com a Revolução Industrial, o chocolate deixou de ser exclusividade da aristocracia e se tornou acessível ao povo, se tornando objeto de comercialização. A fabricação foi aperfeiçoada pelos holandeses e suíços no início do século XIX. Em 1819, François Louis Cailler colocou em funcionamento a primeira fábrica de chocolates suíços. Em 1826, Philipp Suchard começou a fabricar chocolate misturado com avelãs moídas. 
Daniel Peter e Henri Nestlé inventaram, em 1875, o chocolate ao leite. A técnica de produção do chocolate que derrete na boca, nasceu na Suíça em 1879.
Com o aumento do consumo, o número de países que produziam o chocolate também cresceu: Brasil, Costa do Marfim, Nigéria, Camarões, Gana, Congo, Ceilão, Sumatra, Java. A expansão das indústrias de chocolate só teve fim em 1914, com a Primeira Guerra Mundial, restrições foram feitas às exportações do produto. O desenvolvimento das indústrias de chocolate só foi retomado após o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, quando os fabricantes foram liberados dos racionamentos impostos pela guerra e das restrições feitas às exportações, propiciando que o chocolate se tornasse um dos produtos mais populares do mundo ainda hoje.
Se existe algo que não se pode duvidar é da popularidade do chocolate. Sucesso de vendas, sucesso de consumo... Mas e a relação do chocolate com a saúde, como anda? Segundo o guia Viva mais e viva bem 2, da Dra. Sarah Brewer o chocolate amargo oferece benefícios inigualáveis contra o envelhecimento, mas um detalhe tem que ser levado em conta: ele precisa conter, no mínimo, 70% de cacau sólido (quanto mais amargo melhor para a saúde).
O chocolate amargo contém altas quantidades de flavonoides antioxidantes (do mesmo tipo que dá uma ótima reputação ao vinho tinto e ao chá verde). Além disso, os polifenóis presentes são da variedade procianidinas flavonoides conhecidas como superprotetora. O potencial antioxidante do chocolate amargo é o maior entre os superalimentos, com extraordinários 103.971 unidades ORAC a cada 100 g. Esses antioxidantes são benéficos para todo o corpo, especialmente o cérebro.
Segundo uma pesquisa publicada no American Journal of Hypertension, mostrou que o consumo de chocolate amargo melhora uma série de fatores de risco relacionados a doenças coronárias: a alta concentração de flavonoides em 100 g tem efeito benéfico sobre as paredes dos vasos sanguíneos, diminuindo a rigidez arterial, melhorando a dilatação e reduzindo a pressão sanguínea. Em outro artigo publicado no  British Medical Journal, cientistas concordaram que a ingestão de 100 g de chocolate amargo por dia pode reduzir o risco de um ataque cardíaco ou derrame em 21%.  Pesquisadores também descobriram que a ingestão de 45 g do chocolate amargo por dia aumenta o fluxo sanguíneo pelas artérias coronárias. Sem falar que o mesmo tipo de chocolate aumenta os níveis do colesterol “bom” (HDL) e reduz o colesterol “ruim” (LDL) em até 10%.
A ingestão do chocolate também pode ter um impacto positivo, tanto psicologicamente como biologicamente, na sexualidade feminina. É o que sugerem pesquisadores do hospital San Raffaele em Milão, na Itália. Os pesquisadores descobriram, após questionar 163 mulheres, que aquelas que comiam chocolate tinham níveis maiores de desejo que aquelas não o consumiam diariamente.
E tem mais: o chocolate também melhora a sensibilidade à insulina e a função do pâncreas em pessoas com baixa tolerância à glicose. Podendo, desta forma, até a reduzir o risco de desenvolver diabetes tipo 2.
Tendo em vista todos estes benefícios para a saúde, se você incluir a ingestão diária de 100 g de chocolate amargo de forma regular, juntamente com peixe, frutas, vegetais, amêndoas, alho e vinho (150 ml), pode chegar a aumentar a expectativa média de vida em até seis anos e meio nos homens e cinco anos nas mulheres, segundo pesquisadores revelaram no British Journal of Medicine.
Infelizmente, quando se trata de chocolate, é que ele contém muitas calorias. Esta ingestão diária sugerida de 100 g, que é rico em antioxidantes, fornecem 510 kcal de energia que pode contribuir para o aumento de peso.
            
Fontes:
- Larousse do Chocolate – Pierre Hermé;
- De caçador a gourmet – uma história da gastronomia – Ariovaldo Franco;
- Chocolate – receitas doces e salgadas – de Joanna Farrow;
- Revista Aventuras na História, edição 74;
- Revista National Geographic, nº 129;
- Viva mais e viva bem 2 – Dra. Sarah Brewer – Ediouro Publicações.

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